O ser humano tem uma preferência inata por sabores doces e quanto mais esse paladar é estimulado, maior tende a ser o desejo por consumir cada vez mais alimentos doces. É por isso que é muito comum encontrar pacientes que querem se engajar em uma dieta, mas não querem abrir mão de consumir doces.
Segundo a OMS, para evitar o ganho de peso de forma não saudável, devemos consumir menos que 5% das calorias totais advindas de açúcar adicionado, o que inclui desde aquele utilizado para adoçar o cafezinho até o que é utilizado como ingrediente em diversas preparações e produtos industrializados. Quando analisamos o consumo de adultos, porém, esse percentual chega a até 25% das calorias ingeridas sendo obtidas a partir de açúcar adicionado, nas suas mais diferentes formas.
Sabe-se que o consumo elevado de açúcar é um fator de risco para obesidade e doenças que têm um componente inflamatório muito presente, principalmente a Diabetes Mellitus Tipo 2, mas também as doenças cardiovasculares, esteatose hepática não alcoólica, entre outras. Ao mesmo tempo, as preparações doces já são parte da rotina de muitas pessoas e algumas até dizem que não conseguem viver (felizes) sem. O papo do “vício” em açúcar fica para outra hora, a questão que importa é: será que existe algum momento em que o consumo de doces não é tão prejudicial?
Os doces são considerados alimentos de elevado índice glicêmico, isso significa que geram uma elevação muito rápida da quantidade de glicose no sangue após serem consumidos, requerendo uma resposta a altura da insulina para evitar que esse açúcar todo fique circulando sem rumo pela corrente sanguínea, com risco de gerar radicais livres e prejudicar componentes importantes das células.
A Sociedade Internacional de Esportes e Nutrição traz no seu guideline de “nutrient timing” uma recomendação interessante sobre o uso desse tipo de carboidrato - de elevado IG - quando é necessária uma reposição rápida de glicogênio após depleção dos estoques. Outro momento em que uma elevação mais rápida da glicemia é bem vinda é durante treinos muito extensos ou no intervalo entre 2 modalidades, por exemplo, pessoas que praticam corrida/ciclismo/natação seguida de musculação/crossfit (ou vice-versa).
Dessa forma, alguns momentos em que a elevação de glicemia mais rápida produzida por alimentos doces pode ser bem aproveitada é no pré ou pós treino imediato, intra-treino de maior duração ou entre modalidades. O encaixe de um doce no pós treino, porém, pode ser mais benéfico se adicionado de uma fonte de proteína. Porém, vale lembrar que isso não quer dizer que esses são os ÚNICOS momentos em que se pode consumir doces.
Existem pessoas que funcionam bem consumindo um pouco de doce todos os dias. Uma estratégia muito comum de ser utilizada nesses casos é calcular a dieta considerando uma porção pequena de chocolate, ou uma paçoquinha, após alguma refeição principal, principalmente o almoço. Como nesse momento a refeição é mais completa, os demais nutrientes ingeridos auxiliam a diminuir o impacto glicêmico gerado pelo açúcar.
Outro momento bom para consumir doces é quando você está com vontade. Muitas pessoas respondem a isso dizendo que “sempre estão com vontade”. Mas na verdade, na maior parte do tempo não é vontade, mas sim hábito/costume e condicionamento. Aproveitar um momento especial e satisfazer uma vontade REAL de um doce, aproveitando e saboreando cada mordida, não deve ser um prazer completamente deixado de lado, pois também faz parte de uma alimentação equilibrada. Pessoas “formiguinhas” que tem dificuldade de fazer seu consumo de forma mais moderada com maior frequência, se beneficiam de escolher o momento da refeição livre para consumir um doce em maior quantidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Wang, G.-J. (2018). Impact of sugar on the body brain and behavior. Frontiers in Bioscience, 23(12), 2255–2266. doi:10.2741/4704
Kerksick, C. M., Arent, S., Schoenfeld, B. J., Stout, J. R., Campbell, B., Wilborn, C. D., … Antonio, J. (2017). International society of sports nutrition position stand: nutrient timing. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 14(1). doi:10.1186/s12970-017-0189-4
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