A creatina é um dos suplementos mais conhecidos e que possuem maior evidência de benefícios para praticantes de esportes e efeitos sobre os músculos esqueléticos, como aumento de força e recuperação. Seus mecanismos envolvem o aumento da velocidade da ressíntese de ATP (energia), aumentando a capacidade de trabalho das células musculares. Assim, este suplemento pode gerar benefícios sobre o ganho de massa magra, melhora da resistência anaeróbica e auxílio no ganho de força. Porém, recentemente descobertas vêm sendo feitas acerca deste suplemento e seus papéis terapêuticos e funções benéficas sobre outros órgãos, como o cérebro.
Esta substância é formada a partir dos aminoácidos arginina, metionina e glicina, sendo uma molécula produzida pelo corpo e encontrada em boas quantidades em alimentos como carnes, ovos e peixes. Entretanto, para se obter cerca de 5 gramas de creatina através da alimentação, quantidades muitas vezes inviáveis de alimentos seriam necessárias.
A maior parte da creatina ingerida através da suplementação é armazenada nos músculos, porém uma pequena parte pode ser armazenada no cérebro. No cérebro, a creatina pode promover efeitos positivos ao atravessar a barreira hematoencefálica através de um transportador. Além disso, as células do sistema nervoso também são capazes de produzir creatina e, assim, em conjunto com a suplementação, podem aumentar a disponibilidade desta substância, o que pode levar a um aumento da atividade cerebral.
Em contrapartida, existem alguns fatores relacionados ao envelhecimento que podem levar a uma diminuição dos níveis de creatina no cérebro. Assim, deficiências de creatina encontradas neste órgão são relacionadas com transtornos mentais e de desenvolvimento, como atraso de aprendizagem, autismo, síndrome do pânico, esquizofrenia e convulsões, o que pode ser parcialmente revertido pela suplementação deste composto, uma vez que a ressíntese de ATP e a geração de energia no cérebro podem ser beneficiadas.
Desta forma, os benefícios sobre o aumento da atividade cerebral, neste caso, podem ser traduzidos como melhora da cognição, aumento da memória, recuperação do cérebro após lesões e aumento do foco e concentração. Outrossim, o aumento de creatina na região cerebral pode ajudar a diminuir impactos negativos de situações de estresse agudo, como o que ocorre durante a privação do sono e o exercício intenso e processos crônicos, como depressão, doenças neurodegenerativas, doença de Alzheimer e envelhecimento.
Ademais, existem evidências de que indivíduos vegetarianos ou veganos possam se beneficiar mais com a suplementação de creatina, uma vez que consomem pouco ou não consomem alimentos que a contém, como os de origem animal. Assim, benefícios sobre a função cognitiva podem ser encontrados com maior magnitude nestes grupos.
Outrossim, melhorias na capacidade de processamento cognitivo também são de interesse dos atletas. Diversos esportes incluem controle motor, tomada de decisão, coordenação, tempo de reação e outras tarefas cognitivas como aspectos-chave do desempenho, que podem ser afetadas pela fadiga mental. Nesse aspecto, a creatina pode exercer papel ergogênico, pois, teoricamente, pode atenuar fadiga mental, favorecendo o desempenho.
Sendo assim, a suplementação de creatina pode gerar efeitos positivos que vão além da prática esportiva e sua aplicação em diversos campos vêm sendo cada vez mais evidenciada, principalmente em patologias ocasionadas pela deficiência de creatina. Recomenda-se então, avaliar as necessidades de suplementação com nutricionista para orientações individualizadas e correta aplicação do suplemento.
Referências
HARMON, Kylie K. et al. The Application of Creatine Supplementation in Medical Rehabilitation. Nutrients, v. 13, n. 6, p. 1825, 2021.
ROSCHEL, Hamilton et al. Creatine Supplementation and Brain Health. Nutrients, v. 13, n. 2, p. 586, 2021.
Comments